A primeira turma
O projeto Regiões Narrativas já fez história. Em vídeo, animação, jogos em remix. Na formatura da primeira turma, no sábado, 14, a Mostra Coletiva reuniu alunos, professores e um público interessado no resultado de oito meses de trabalho. Na Biblioteca Parque de Manguinhos, todos os caminhos levavam ao mapa imaginado, vivido e experimentado coletivamente.
A Cartografia revela o cruzamento dos muitos percursos e linguagens experimentados no decorrer do curso de Narrativas Transmídia. Um mapa-colagem que reúne as vivências, a pesquisa, a memória e a criação das muitas histórias vividas pelos participantes. A casa como ponto de partida, o percurso como rota criativa, a Biblioteca como destino. “Eles têm perseverança, vontade de desenvolver, e essa foi a primeira mostra, muitas outras virão. São pessoas que se juntaram e vão continuar trabalhando juntas”, aposta Moana Mayall, responsável pela criação final.
O projeto aproximou pessoas e territórios distantes na geografia: Bangu, Cidade de Deus, Vila Turismo, Paquetá, Monjolos, Andaraí. “Eu ganhei conhecimento e muitas coisas boas com essa convivência. Sou grafiteiro, faço música, vídeo e poesia, e vou juntar tudo isso pela expansão da arte nas comunidades”, anuncia Marcos Vinícius Aquino Santana, 36 anos, com certificado em mãos, rumo a Bangu.
Outro aluno empolgado, José Roberto de Oliveira, 17 anos, também pensa em continuidade. “É uma porta aberta. Eu trabalho com música, dou aulas de violão, e aprendi bastante sobre animação e jogos. Tudo a ver”, ele planeja.
Carlos Eduardo de Sousa, 16 anos, quase desistiu pela metade. “O curso era longo e pensei em parar, por conta de outras coisas. Mas a Ilana me chamou e, olha, estou aqui, foi uma superação. Vai ser vir para a minha vida”, o estudante mostra o diploma, cheio de orgulho.
A turma de quase 30 alunos reuniu muitas gerações. Dos 17 aos 70 anos. “Na animação todo mundo vira criança. Foi muito tranquilo trabalhar com todas as faixas etárias. E foi muito bacana ter a integração com outras áreas, a multidisciplinaridade e a diversidade. As pessoas se descobrem na experiência do fazer. Fiquei muito satisfeito com tudo que aconteceu, a produção do curso foi excelente”, ressalta Marcos Magalhães, um dos oito professores que se revezaram nas suas respectivas áreas.
Gabriel Vieira, que dividiu a oficina de animação com Marcos Magalhães, também não poupou afagos ao empenho – e ao desempenho – do grupo. “Fui o último a entrar e não fazia ideia do alcance da proposta. Já dei aula em outros países, mas, sem dúvida, esse foi o projeto mais longo de que participei. E foi impressionante ver o crescimento que o trabalho contínuo dá ao indivíduo. Durante todo o processo, eles não estavam apenas aprendendo, mas ensinando, também. A proposta da cartografia é de raciocínio muito avançado”, elogia Gabriel.
A turma deu conta e fez bonito. “Uma experiência que dá pena quando acaba. É surpreendente ver que todos eles têm muito potencial. Durante todo o curso, pensei muito em como inspirá-los e, no final, eles me inspiraram”, resume a professora de remix Mary Fê.
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A troca valeu a pena, eles fazem coro. “Fiz amizade com pessoas de outras comunidades, trocamos experiências profissionais. Aprendi muita coisa e a animação, principalmente, vai me ajudar no trabalho com crianças. Quero investir na área de gráficos e desenhos”, Rosalina da Silva Jesus Brito, 52 anos, que é ilustradora, arte-educadora e jornalista, faz planos.
Irani Vitória Santana Lourenço, 70 anos, também era puro contentamento. “Foi mais um caminho que me fez enxergar que nada é impossível. Essa é uma experiência que nunca imaginei que pudesse ter, não nesta idade. Vou juntar esse certificado aos outros que tenho em casa, estou investindo em mim”, ela garante.
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No balanço do projeto, uma aposta ganha em muitos sentidos, festeja a diretora acadêmica d’O Instituto, Ilana Strozenberg. “Foi um projeto construído. Nós sabíamos o que queríamos fazer, mas sabíamos das mudanças que ocorreriam durante o processo. Quando começamos a segunda fase, pudemos conhecer melhor os alunos e já sabíamos que iríamos trabalhar a experiência das pessoas na cidade, no seu percurso até a biblioteca. Exploramos o sentido da biblioteca para essas pessoas, as estimulamos a criar e a construir seus roteiros. Eles se complementaram na sua diversidade”, avalia Ilana. Segundo ela, mais tardes calorosas virão. O Regiões Narrativas continua.