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Empreender, transformar e colaborar

dez
2013

Plateia no Rio de Encontros no AR, em edição extradordinária, novembro de 2013

Uma edição especial, em parceria com o  PROJETO AR, novo parceiro d’O Instituto. Em iniciativa inédita, o Rio de Encontros saiu de seu espaço habitual, a Casa do Saber, e aportou na sede do Solar Meninos de Luz, no Cantagalo. Com a sustentabilidade de projetos de empreendedorismo em regiões periféricas e favelas do Rio em pauta, o debate contou com um trio intrépido que faz acontecer na cidade: Junior Perim, ativista social e produtor cultural,  fundador e coordenador executivo do projeto Crescer e Viver; Dorly Neto, pontífice da Benfeitoria, plataforma colaborativa de mobilização de recursos; e Marcela Bronstein, consultora de marketing e comunicação. Compondo a roda, uma plateia igualmente atuante e empenhada em causar impacto positivo por onde circula.

“Empreender, transformar e colaborar: esse tripé se sustenta?”, eis o tema, avisou Ilana Strozenberg, diretora acadêmica d’O Instituto. “O que fazer para que quando acabe o financiamento, o projeto continue? O que faz com que um projeto atraia investimentos e seja bem-sucedido? Por que uns vão e outros ficam?”, ela lançou as perguntas.

Marcela Bronstein é consultora de marketing de projetos sociais e sabe bem como funciona o outro lado, o de quem financia. Boa entendedora do mercado corporativo, ela garante que as empresas já entenderam que é preciso ir além dos brindes de fim de ano e estão dispostas a apostar em projetos que promovam a transformação. Mas ainda há certa relutância na hora de decidir quem vale e quanto. “O ganho deve ser social e não apenas em marketing. É importante ser inovador, mas a empresa quer segurança. Muitas começam pelas leis de incentivo, mas bancam projetos quando já degustaram. É importante, por isso, passar pelo crivo de uma comunidade.”

Idealizador do projeto Crescer e Viver, Júnior Perim já passou por quase todos os crivos e convenceu muita gente de é merecedor de crédito. Hoje, é um dos principais exemplos de longevidade que o Rio de Janeiro ostenta e exporta. Mas a caminhada exigiu acrobacias fora do picadeiro. “Tem de ter disposição para fazer o trabalho sujo, se preocupar menos com o midiático e mais com o social”, ele sustentou ainda a necessidade de construir estratégias de gestão que garantam remuneração para os seus integrantes. Segundo ele, o tempo de quem vive na favela é outro. “Não dá para ser empreendedor cool porque a vida não é cool para a favela”, pontuou.

Quem tem origem popular tem, de fato, menos tempo e precisa tecer redes mais amplas, defendeu Dorly Neto, pontíficie da Benfeitoria, plataforma online criada para garantir que projetos em desenvolvimento atinjam seus fins, explicou Dorly Neto. “Colaboração no mundo não é novidade, sempre aconteceu. A internet apenas potencializou isso, facilitou as transações financeiras, o que abriu novas possibilidades de realização e financiamento de projetos”, ele explicou o fundamento da empresa criada em 2011.

Conversa boa é aquela em que a plateia participa. O sociólogo e pesquisador associado ao IETS, Paulo Magalhães, tem atuação reconhecida e opinião formada. Segundo ele, os projetos desenvolvidos em comunidades, em sua maioria, não têm relação com o território e as necessidades dos moradores. “Os projetos são impostos, seja por estratégia ou por exploração do mercado. As políticas de governo são de cima para baixo”, disse ele, ressaltando que os projetos são invariavelmente desarticulados. “A ação compartilhada é condição para a continuidade”, defendeu.

Que é preciso colaboração, todos concordam. Que o trabalho tem de ser convertido em empreendimento, também. Que as necessidades de quem vive nas áreas para onde se destinam os projetos têm de ter direito a voz, mais ainda. “Dentro da cidade, é preciso manter uma relação com a cidade”, pontuou Perim. Cabe às empresas, por sua vez, apostar sem tantas reservas ou exigências. “Não tem de ter certeza. Mas investir no risco e na experiência de fazer alguma coisa”, opinou a jornalista Julia Michaels, do Rio real blog. Marcela Bronstein, que ja atuou como patrocinadora de projetos culturais, concordou, mas com ressalvas. “Há uma grande oportunidade, mas ainda não há um mercado organizado. Todos têm dificuldade em se vender. Inspiração e carisma são importantes para sensibilizar um patrocinador. E o projeto tem de ter pertinência para a empresa.”

Enquanto o patrocínio não vem, como manter o projeto? Trabalho voluntário tem limite, bradou Leonardo Januário, criador do Bela Arte Jazz, projeto contemplado pela Agência de Redes para a Juventude. “Hoje, a gente se mantém com as premiações e ajuda dos amigos. Como eu faço para chegar lá?”, perguntou. “Tem de buscar mediadores”, sugeriu Paulo Magalhães, para quem as empresas são espaços de relações. E quem puder facilitar os encontros, que se apresente sem demora.