A metodologia da escuta e o caráter transformador da literatura
Lançado em novembro de 2021, o livro Quarentena da Resistência: na voz de 21 catadoras, é resultado de 5 meses de oficinas semanais de criação narrativa e contação de histórias, oferecidas a um grupo de mulheres, na maioria negras, pertencentes a cooperativas de materiais recicláveis de cidades do Grande ABC Paulista, São Paulo e Maceió.
O projeto deu continuidade à formação de uma turma de catadoras no contexto da FLUP Pensa de 2020, que, naquela edição, homenageou os 60 anos da publicação de Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus – catadora paulista, uma das primeiras escritoras negras do Brasil internacionalmente reconhecida. Com o apoio o Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), parceria com a Coopcent ABC e o PACC/Letras/UFRJ, as oficinas puderam ser ampliadas com o objetivo de produzir o registro da história e militância das catadoras.
Organizador do livro, o professor Eduardo Coelho, que ministrou as duas etapas das oficinas junto a uma equipe de colaboradores composta por professores, estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores da área de Letras, educadores populares e profissionais de produção editorial, trouxe a “metodologia da escuta” como estratégia central para o resultado alcançado:
“A ‘metodologia da escuta’ se configurava como um exercício de aproximação que afetava tanto a equipe quanto as catadoras…, a escuta aguçava os modos de percepção da realidade em que vivem, analisando-os e criando sentidos acerca de seus fatos biográficos. A leitura, a escrita e a contação de histórias apresentou condições para que se conhecessem entre si e descobrissem a si mesmas, o que consiste numa das potências desencadeadas pelo caráter transformador da literatura.”
Reunindo textos produzidos ao longo das duas formações, a publicação de Quarentena da Resistência vem promovendo uma transformação radical na vida de suas autoras: além de desenvolveram habilidades de leitura e escrita que não suspeitavam; adquiriram autoconfiança; foram valorizadas na mídia e outros contextos culturais; e formaram uma rede de apoio que se mantém ativa até hoje. Para conhecer e se emocionar com as narrativas dessas mulheres, ao mesmo tempo tão próximas e tão desconhecidas, acesse o livro aqui.
Foto: Catadora Maria das Dores, uma das autoras de Quarentena da Resistência [Pedro Stropasolas/Brasil de Fato]