Convergência e novas possibilidades no mundo da literatura
Já dizia Henry Jenkins que a palavra de ordem, quando se fala de qualquer mídia atualmente, é convergência. Para a professora Cristiane Costa, da escola de Comunicação da UFRJ, há exemplos claros desse processo.
Esse foi um dos pontos centrais da apresentação de seu projeto de pesquisa na reunião do Pós-Doutorado do Programa Avançado de Cultura Contemporânea – PACC – do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no dia 8 de julho, em que discorreu sobre as narrativas criadas a partir das novas tecnologias digitais.
“As pessoas às vezes esquecem que o livro é uma tecnologia. Ele não surgiu do nada, não é algo natural. Foi inventado e exige certos conhecimentos para ser utilizado”, alertou a pesquisadora. E, para deixar claro que o livro é uma mídia e uma tecnologia, mostrou um ótimo vídeo humorístico, situado num momento imaginário em que o livro teria sido inventado, há alguns séculos atrás, no qual um homem – aparentemente um técnico – explica a outro como se faz para “acessar” seu conteúdo.
A partir desta reflexão, Cristiane Costa abordou o debate sobre em que medida as novas tecnologias de leitura são ou não killer technologies, isto é, aquelas cujo desenvolvimento, como o nome sugere, “matam” a tecnologia precedente, transformando-as totalmente através de incorporações ao processo. Alguns autores, disse ela, consideram que produtos como os e-readers – como o Kindle e o iPad -, são killer technologies na medida em que poderão vir a substituir o livro.
Qualquer que seja a posição em relação ao futuro do livro impresso, entretanto, segundo a pesquisadora, é inegável que a leitura sem livro apresenta novos suportes, dando ensejo ao surgimento de novas estruturas narrativas e novos gêneros literários. Todas essas mudanças que as novas tecnologias estão trazendo ao processo de escrita levam a uma indagação: “Será que a nova literatura que está surgindo pode ser chamada de literatura será preciso inventar um novo nome?”
Para evidenciar essas mudanças, Cristiane Costa apresentou alguns exemplos de novos gêneros literários surgidos da convergência entre as mídias digitais e o livro. Entre esses destacou o vook, produto cuja denominação é formada a partir da junção das palavras video e book. “Os vooks se parecem com os jornais do Harry Potter”, explicou, onde “as fotos funcionam como vídeos, que acompanham por textos. Assim, no vook, a página é dinâmica.”
Os vooks são representantes bem característicos do processo de convergência de mídias, uma vez que unem cinema, literatura e um aguçado senso de produção editorial. No entanto, apesar da inovação que apresenta, o vook só pode ser utilizado nos suportes iPad e iPhone, o que cria um certo tipo de limitação.
A palestrante apresentou ainda outras possibilidades de narrativas digitais – como hipertextos, realidade aumentada e a computer generated literature – que utilizam diversas mídias para contar uma história. É esse, justamente, o principal foco de sua pesquisa atual. “O que mais me interessa é discutir como contar uma história usando várias mídias e artes ao mesmo tempo”, afirmou.
Ao invés de realizar um trabalho acadêmico típico, entretanto, a proposta de Cristiane Costa é criar uma narrativa original de literatura de hipermídia a que deu o título de P@ar Perfeito. E explica: “Será um processo de jornalismo, ou de ficção – ainda não decidi -, que propõe uma imersão do leitor num jogo baseado em sites de relacionamento”. O objetivo é mapear essas novas estruturas literárias e também produzir um produto literário nesses moldes”