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Seminário Cidades: Futuros Possíveis 2011

maio
2011

Evento começou com palestra de antropóloga americana

Antropóloga Jean Comaroff dá início às palestras do II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis (Foto: Kiko Cabral)

Começou nesta terça-feira, dia 9, o II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis, evento que reúne pesquisadores e representantes de organizações públicas e privadas para discutir as perspectivas dos espaços urbanos nas mega cidades, sobretudo no contexto de países de desenvolvimento tardio. Jean Comaroff, professora de Antropologia na Universidade de Chicago, ministrou a palestra de abertura do evento, que contou também com as presenças da coordenadora-geral do seminário, Ilana Strozenberg, e da curadora, Mariana Cavalcanti.

Na palestra “A teoria do sul: como a Euro-América está se encaminhando em direção à África”, a antropóloga Jean Comaroff abordou a complexidade das sociedades coloniais e os desdobramentos negativos da relação entre colonizados e colonizadores, mesmo depois da independência. “O narcisismo da Europa pós-colonialista tratava o mundo não-europeu como se ele fosse invisível”, afirma Jean Comaroff.

A professora também destacou o conceito de modernidade, uma vez que, para ela, este processo está atrelado ao capitalismo. A diferença, contudo, está na definição de modernidade para as nações do Sul Global. “Não é que as pessoas no Sul Global não tenham modernidade, é que elas não têm a promessa da modernidade. Ao contrário do mito europeu, que diz que só existe uma modernidade, o Sul Global apresenta várias modernidades ao mesmo tempo”, resumiu. A antropóloga explicou que o termo Sul Global “explicita o colapso da era pós-capitalista” e mostra a expansão de modos de vida criativos, ainda que delimitar geograficamente o que é o Sul e o que é o Norte seja uma tarefa cada vez mais difícil.

O público lotou o auditório da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro (Foto: Kiko Cabral)

Jean Comaroff contou, ainda, que visitou o Rio de Janeiro e que ficou surpresa com os urbanismos regionais que encontrou na cidade, sobretudo no Complexo do Alemão, na Zona Norte. “Depois que andei no teleférico, pensei: nossa! Isso aqui pode resolver os problemas de tantas favelas do Norte!”, revelou a professora, considerando que o teleférico instalado no local pode ser uma boa solução para os problemas de transportes de outras grandes cidades.

O II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis continua hoje e amanhã, de 9h30 às 17h, na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. O evento é uma iniciativa conjunta do Pós-Doutorado em Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC), do Fórum de Ciência e Cultura/UFRJ, do Instituto Contemporâneo de Projetos e Pesquisa (O Instituto) e do Laboratório de Estudos Urbanos (LEU) do CPDOC/FGV, em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com a Faculdade Cândido Mendes e com o Núcleo de Estudos e Projetos da Cidade (CENTRAL) da PUC RIO, com o apoio do Globo Universidade, da Concremat e da Souza Cruz.

Favelas foram tema do segundo dia do Seminário Cidades: Futuros Possíveis

Duas palestras na quarta, 10, na Casa Rui Barbosa

Por Gisele Gomes Rio de Janeiro

Nesta quarta-feira, dia 10, aconteceu o segundo dia de palestras do II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis, na Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. A primeira mesa do evento abordou o tema “Diferenças: modos de lidar”, com a presença dos professores Maurício Tenório, da Universidade de Chicago, e Tamara Egler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); além de Ricardo Henriques, presidente do Instituto Pereira Passos, e da pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, Silvia Ramos. A coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, Heloisa Buarque de Hollanda, foi a mediadora do debate.

Ao iniciar a palestra, Maurício Tenório destacou características da Cidade do México e fez comparações com São Paulo, dando ênfase a um ponto comum entre as megalópoles: a violência. “Hoje, nessas cidades, as organizações criminosas passam impunes. Por exemplo, na Cidade do México, cerca de 98% dos crimes não são resolvidos”, afirma o professor. Ainda no que diz respeito às grandes cidades, Tamara Egler questionou o público com relação ao papel da tecnologia no desenvolvimento da política e apontou um desafio para as megalópoles: “É preciso fazer uma sociedade de todos para todos”. Para a professora e pesquisadora, uma solução interessante está na criação de formas alternativas de políticas públicas, o que pode democratizar a gestão das cidades.

Tamara Egler e Silvia Ramos participam da mesa ‘Diferenças: modos de lidar’ (Foto: Kiko Cabral)

Ainda durante a mesa “Diferenças: modos de lidar”, Silvia Ramos ressaltou a relação do Rio de Janeiro com suas favelas e falou sobre a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). “A chegada das UPPs diz respeito aos direitos humanos. Hoje, estamos com 18 UPPs envolvendo três mil policiais”. Presidente do Instituto Pereira Passos (IPP) e responsável pelo programa UPP Social, Ricardo Henriques ressaltou a reflexão sobre a tensão entre diversidade e desigualdade. “É a diferença que se torna instrumento estratégico para a redução da diversidade”, definiu.

A segunda mesa do seminário, intitulada “Cidadania e ordem urbana, impasses e perspectivas”, foi mediada por Ilana Strozenberg e ministrada pelas professoras Maria Alice Rezende de Carvalho e Vera Telles, além do professor da PUC Rio, Marcelo Burgos. Vera Telles iniciou o debate discutindo as fronteiras politicamente sensíveis entre o formal e o informal, pois, segundo a professora, elas estão “embaralhadas” no mundo globalizado.Já Maria Alice Rezende de Carvalho abordou a relação entre cidade e os cidadãos. “A cidade é uma comunidade autônoma que favorece a diferenciação entre os indivíduos. Ela começou por uma concepção geral de liberdade”. Marcelo Burgos finalizou a palestra destacando as favelas no Rio de Janeiro e a mudança de imaginário da população. “A favela resgatou os moradores dos bairros populares que renunciaram à luta pela cidade”.

Debates sobre o passado e o futuro marcaram Seminário Cidades

Quinta-feira, dia 11, último dia de palestras do II Seminário Cidades: Futuros Possíveis 

José Reginaldo Gonçalves e Lucia Lippi participaram da mesa ‘O passado no futuro das metrópoles’ (Foto: Kiko Cabral)

O último dia do II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis aconteceu nesta quinta-feira, dia 11, na Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, com a apresentação de duas mesas de debate. A primeira, intitulada “O passado no futuro das metrópoles”, foi coordenada por José Reginaldo Gonçalves, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e contou com a presença das professoras Beatriz Jaguaribe (UFRJ), Lucia Lippi (CPDOC/FGV) e Cristina Meneguello (Unicamp).

Beatriz Jaguaribe iniciou a discussão questionando a definição de passado. “O que é passado? Quando ele se transforma para ser preservado no futuro?”, perguntou a professora que destacou as reformas urbanas que aconteceram no Rio de Janeiro ao longo dos anos. Lucia Lippi ressaltou a importância das intervenções urbanas na cidade e exemplificou com a construção do Aterro do Flamengo. Por fim, Cristina Meneguello falou sobre a preservação do patrimônio industrial. “O patrimônio tem uma dimensão imaterial, que são as memórias dos trabalhadores e a memória é a matéria-prima da história”, disse.

A segunda mesa abordou o tema “Usos e apropriações do espaço público”, com a presença dos professores Paulo Fontes (CPDOC/FVG), Scott Salmon (New School/NY) e Paulo Pereira de Gusmão (UFRJ). O debate foi mediado pelo arquiteto e urbanista Manoel Ribeiro. Scott Salmon destacou as mudanças teóricas na arquitetura, o que deu origem ao que ele define como urbanismo competitivo. “É um processo de reconstruir os espaços urbanos e mudar a concepção que temos deles”, afirmou.

O segundo palestrante, Paulo Fontes, apresentou um vídeo sobre o trabalho que desenvolve na Fundação Getúlio Vargas. Sua pesquisa mostra a ocupação de uma antiga fábrica no Rio de Janeiro, a CCPL, por moradores. “Com esse trabalho, procuro articular o passado industrial do Rio com as favelas e com Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, explicou.Para finalizar, Paulo Pereira Gusmão procurou discutir a urbanização no contexto da globalização: “eu vim aqui fazer provocações e falar sobre a influência de grandes corporações no processo de reordenamento do território brasileiro e do enfraquecimento do poder público”.

O II Seminário Internacional Cidades: Futuros Possíveis aconteceu entre 9 e 11 de agosto, na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. O evento foi uma iniciativa conjunta do Pós-Doutorado em Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC), do Fórum de Ciência e Cultura/UFRJ, do Instituto Contemporâneo de Projetos e Pesquisa (O Instituto) e do Laboratório de Estudos Urbanos (LEU) do CPDOC/FGV, em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com a Faculdade Cândido Mendes e com o Núcleo de Estudos e Projetos da Cidade (CENTRAL) da PUC RIO, com o apoio do Globo Universidade, da Concremat e da Souza Cruz.

Cobertura:  Globo Universidade